domingo, 19 de setembro de 2010

Ah, meus amigos...

Ah, meus amigos, não vos deixeis morrer assim... O ano que passou levou tantos de vós e agora os que restam se puseram mais tristes; deixam-se, por vezes, pensativos, os olhos perdidos em ontem, lembrando os ingratos, os ecos de sua passagem; lembrando que irão morrer também e cometer a mesma ingratidão.


Ide ver vossos clínicos, vossos analistas, vossos macumbeiros, e tomai sol, tomai vento, tomai tento, amigos meus!

Anda tão coriácea esta República, tão difícil a vida, tão caros os gêneros, tão barato o amor que – pombas! – não há de ser a mim que hão de chamar ave de agouro. Eu creio, malgrado tudo, na vida generosa que está por aí; creio no amor e na amizade; nos homens em geral; nas árvores ao sol e no canto da juriti; no uísque legítimo e na eficácia da aspirina contra os resfriados comuns. Sou uma crente – e por que não a ser? A fé desentope as artérias; a descrença é que dá câncer.

Pelo bem que me quereis, amigos meus, não vos deixeis morrer. Comprai vossas varas, vossos anzóis, vossos molinetes, e andai à Barra em vossos fuscas a pescar, a pescar, amigos meus! Muni-vos também de bons cajados e perlustrai montanhas, parando para observar os gordos besouros a sugar o mel das flores inocentes, que desmaiam de prazer e logo renascem mais vivas, relubrificadas pela seiva da terra. Parai diante dos Véus-de-Noiva que se despencam virginais, dos altos rios, e ride ao vos sentirdes borrifados pelas brancas águas iluminadas pelo sol da serra. Respirai fundo, três vezes o cheiro dos eucaliptos, a exsudar saúde, e depois ponde-vos a andar, para frente e para cima, até vos sentirdes levemente taquicárdicos. Tomai então uma ducha fria e almoçai boa comida roceira, bem calçada por pirão de milho.

Não abuseis da carne de porco, nem dos ovos, nem das frituras, nem das massas. Mantende, se tiverdes mais de cinqüenta anos, uma dieta relativa durante a semana a fim de que vos possais esbaldar nos domingos com aveludadas e opulentas feijoadas e moquecas, rabadas, cozidos, peixadas à moda, vatapás e quantos. Fazei de seis em seis meses um check-up para ver como andam vossas artérias, vosso coração, vosso figado.

E amai, amigos meus! Amai em tempo integral, nunca sacrificando ao exercício de outros deveres, este, sagrado, do amor. Amai e bebei uísque. Não digo que bebais em quantidades federais, mas quatro, cinco uísques por dia nunca fizeram mal a ninguém. Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido.

Vinícius de Moraes.
 
Amo demais!

domingo, 29 de agosto de 2010

My little sister is a zombie in a body...

Meu Deus! Como meu espírito envelheceu rápido e involuído! Aposentei-me d´uma felicidade entre sufocantes aspas. Não sei se agüento mais tropeçar em abismos, divagar por minadas trevas. Em que céu minha fé encontra-se evaporada? Em que época meus sonhos deixaram-me abandonada? Meu Deus... que alma enrugada, calejada, exaurida! Que força sobrenatural me enterra a carne tão consumida! Quando foi que socializei-me tão solitária? Meu corpo rendeu-se a que funerária? Onde foi meu enterro, que não vi? Quando foi que morri?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Vergonha! Vergonha! Muita vergoooooonha!
Que mico! Que gorila! Que king kong!
Vou me enfiar num bueiro e fazer dele meu lar-doce lar!
O ratinho do esgoto vai ser meu melhor amigo.
Vou sumir até o mundo acabar
ou até toda minha geração morrer!
Quanta vergonha!
Nunca mais volto lá sem peruca. Never!





... vergonha, vergonha...

Verdade

Tudo é sério
Tudo é grave
Tudo dói
Todos mentem
Todos pecam
Nada alivia o peso da existência
Nem esconde o drama do ser
Sente-se demais a profundeza das coisas
E a tristeza da gente
Todos sofrem
Todos fingem
Nada é festa
A paz é vento
A vida é doída
E o destino severo
Muito grave...
Muito sério.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Valsa para Elis*

Menininha do meu coração
Eu só quero você
A três palmos do chão
Menininha, não cresça mais não
Fique pequenininha na minha canção
Senhorinha levada
Batendo palminha
Fingindo assustada
Do bicho-papão

Menininha, que graça é você
Uma coisinha assim
Começando a viver
Fique assim, meu amor
Sem crescer
Porque o mundo é ruim, é ruim
E você vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque o mundo somente
É teu bicho-papão

Fique assim, fique assim
Sempre assim
E se lembre de mim
Pelas coisas que eu dei
E também não se esqueça de mim
Quando você souber enfim
De tudo o que eu amei.

*Valsa para uma menininha
(Vinícius de Moraes e Toquinho)

Para minha filhota - o maior amor da minha vida - que está completando 6 meses hoje!

domingo, 15 de agosto de 2010

Convivência

No início, pensava-se que era mistério
Ar inquieto, olhar distante...
Depois, com o tempo,
Viu-se que era falta de assunto,
Um quê sem conteúdo
Que de tanto conviver,
Virou um tédio.

Segredinho

Ainda sei escrever,
Ainda sei despachar no papel
Toda aquela baboseira do amor,
Da esperança comprometida
Sei sentir nas mãos
A angústia do abandono,
O orgulho desafiado
Sei ainda reclamar do destino traiçoeiro,
Da solidão mal vivida...
Posso borrar ainda as palavras
Com lágrimas não contidas
Mas não quero!
Quero sentir sozinha meu penar,
Quero me fechar
E enganar!
Dizer que vou bem, muito bem!
Muito além de muito bem!
Ainda sei me inspirar...
Mas de nada vou me queixar
Não vou escrever... ainda,
Mas ainda sei escrever,
Porque ainda sinto toda aquela baboseira
Do amor não correspondido, sofrido...
Mas, dessa vez, vai ficar aqui!
Bem guardadinho!
Bem seguro no meu orgulho!

Prioridades

Vivo em conflito eterno
Luto contra meu instinto
E minha missão
E não estou nem perto
De parcial realização.
Luto contra o que sinto
E batalho pela minha profissão
Mas meu útero ainda oco
Não quer esperar nem mais um pouco.
Envelheço sem parar
Vencendo o prazo de sonhar
Troco meus intensos desejos
Pela vida sem beijos.

... ah! Meus sonhos fartaram-se de mim...

Comigo

E por que não ficar só?
Por que não acordar e dormir
Na companhia de quem mais se importa comigo?
Estou só... E devo querer!
Eu me faço bem,
Não me traio nem me iludo
Não enxergo meus defeitos
E me aceito desse jeito,
Sem dramatizar.
Não quero mudar...
Quero ser só... só minha!
E ninguém mais vai me tirar de mim!

Pontes

Dinamitar pontes
Para poder avançar
Não vou me acovardar
Dinamitar pontes
E esquecer o caminho de volta
Seguir em frente
E me arriscar
Dinamitar pontes
Desprender-me da memória
E traçar metas
Dinamitar pontes
Ter coragem
Enfrentar o desconhecido
Dinamitar pontes
Dinamitar pontes
Dinamitar pontes
Não ter como voltar
Não ter como desistir
Dinamitar pontes
E lutar pela felicidade
Dinamitar pontes
Dinamitar pontes
E vencer.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Então...

Como estou sem sono, estou aqui tentando achar algum assunto para fosforilar. Ah! Lembrei que fiquei muito, muito, muito triste ontem, quando resolvi, finalmente, pegar meus dvds de back up, nos quais guardei todas as fotos da minha vida inteirinha e passar pro meu novo - que já nem é tão novo mais - notebook. Cadê? Cadê? Cadeeeeeeê???!! Shit! Fuck! Hell! P*¨%$#q&o$#%P#¨¨!!!!!! Grrrrrrrrrrrrrrrr!!! Perdi tudinho da silva! Sei que tem coisa pior, mas é phoda, viu? Nunca mais vou ver tantas fotos, tantos registros de momentos tão importantes... tanto sofrimento pra uma pessoa só! Aí escuto uma voz de fundo super desnecessária "ah... mas bom mesmo é HD externo... back up em dvd não dura nada." Por que as pessoas só falam isso depois que já elvis, hein? Por que não me aconselharam a comprar o raio do HD externo antes?
Meu passado foi pro lixo. E nem adianta falar que vai ficar tudo na memória, que esta já está bem comprometida.
Nunca mais faço back up em dvd! Vou postar tudo no orkut, pra garantir e vou comprar um HD externo. Aliás, vou revelar! Vou entulhar minha casa de álbuns de fotografia e guardar num lugar seco, arejado, abri-los de vez em sempre para que as fotos não estraguem, grudem ou peguem candidíase.

Problema sério!

Seríssimo! Muito sério mesmo! Alguém me ajuda a entender por qual motivo eu ainda não abri a caixinha do remedinho do bem, da pílula da felicidade, do comprimidinho milagroso? Aí, vou tentar dormir e fico com esses pensamentos atordoantes... Se arrepende agora, mula preguiçosa! Burra, triste e gorda! Preciso seguir o conselho de uma pessoa muito sábia e tirar um dia inteirinho pra ficar só comigo num hotel. Eu e eu. No máximo, mais eu. Só. Sem TV, sem som (mentira... Chico é sempre bem-vindo em qualquer lugar e circunstância), sem celular... Vou me encher de lexotan e adormecer minha alma!
PS: Não se preocupe, primo, não estou tendo pensamentos suicidas. É draminha básico de um galo canceriano que sofre muito, mas que tem um primo maravilhoso e uma filha dos deuses que são minha dose diária de fluoxetina.
Voltando ao drama: Preciso ir a uma roda de samba. De verdade.

Chegada

Finda a inquietude
De perdas traçadas...
Encontrei um novo lar
Por essas trilhas embaraçadas
Um lugar tão perdido
que o meu não mais me amedrontava

A alegria que agora me consome
É mais que imaginei haver
Subi! Subi com teus braços
Erguida por teus abraços
Precisos...
E cá em cima, além das grisalhas
turbulentas
O horizonte é claro
O sol arde sem queimar
A paz é elevada
E as sensações nem nome ainda têm.

Páginas

Que este lápis me inspire agora
A escrever um poema emocionante,
Que transborde esperança
E que fale de nós dois em versos simples.
Cansei do pessimismo
E de nossas feições cansadas.
Quero viver o que temos de melhor:
O amor, a paz e as carícias...
Ah... as carícias!
Quero beijar-te com vontade
Não mais ter do passado saudade.
Quero criar novas estórias
Cansei de tentar reviver as lembranças.
Quero te conhecer novamente,
Saber quem és e te convencer que mudamos
Não seremos mais o que fomos
Talvez se nos olhássemos com olhos imparciais
Nos encontraríamos outra vez.
Pra que rejeitar a felicidade
Se esta já nos pertence?
Arrastamo-nos sem motivos
E envelhecemos orgulhosos demais.
Deixemos o lápis rabiscar o que não nos serve
E viremos as páginas rasuradas
Que a esperança agora me sufoca!

Medo do amor

Fartei-me de ti, coração fardado!
Em batalha feri e fui ferida
Fiz-me refém sem ter enxergado
Que te conquistei e sou tua querida.

Assim como confundo vida e morte
Escolho sempre o que me é oposto
Viajo ao sul porque temo o norte
Recuso por não conhecer o gosto.

Já experimentaste algum dia lutar
Contra ti mesmo e contra teu jeito?
Coração! Ponha-se no seu lugar!

Contente-se em morar no meu peito!
Quero que venhas nele te abrigar
E eu só quero morar no teu beijo!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Incondicional

Chega!
Essa será a última vez
Que guiarás meus versos!
Sinto ainda tanto amor
E tanto rancor!
Vives bem com ela
E estás tão distante
E tão perto...
Tão constante...
Fazes-me ter dó de mim
Patética, guardando sentimentos nobres
Por uma pessoa tão pobre
De espírito e decência.
Erraste... a culpa foi tua!
Não mereces alegrias
A justiça ainda me castiga
Por um pecado só teu!
Merecias ser eu...
Vou livrar-me deste entulho!
Restos inúteis que me ocupam
Tenho que condicionar meu amor
E resolver meus sentimentos.
Não sei porque ainda te guardo em mim
Como fui me apaixonar assim?
Não enxergo um motivo para te amar
Não consigo te admirar...
Não mereces nem meu desprezo
Muito menos meu perdão...
Mas amor... o amor é incondicional
É uma doença mortal
Enquanto sinto as tuas dores
E vivo teu desatino
Tu sorris no meu lugar
e roubas meu destino
mas é a última vez que falo de ti
agora, meu amor será condicionado
Porque este peito ainda é meu!

Pecado

Não te arrependas!
Foste cruel e desleal... foste covarde
Porque despertaste
Amor em quem não pretendias amar
E agora jazes em outros braços
E saboreias outro beijo
Sonhas sonhos da sociedade
Porém, padrões impostos te sufocarão,
Estás amarrado e nem percebes
E quando despertares
Verás que estes braços
Nos quais descansas tua mente
São fracos demais para suportar
O peso da tua consciência
E esses beijos que tu bebes
São cuspes sem sabor
e não escondem o gosto amargo do teu escarro
E lembrarás dos meus abraços
Fortes, que agüentaram teu corpo inteiro
E dos meus beijos também sentirás falta
Porque sugavam tuas angústias.
Eu processava tuas dores em meu corpo
E tudo que nele tu deixavas eu curava!
Tua saliva, teu suor, tuas lágrimas
Eram secretadas para dentro de mim
E eu babava
Meu corpo encharcava
E eu chorava... por ti e por mim
Sentirás falta de mim
Porque não tens depósitos para tuas secreções
E não vives mais as mesmas emoções
Mas, não te arrependas!
Pois mesmo que venhas com frases babadas,
E lágrimas acumuladas
Não consumirei teus líquidos imundos!
Tu mereces viver neste teu mundo aprisionado
Porque és produto do teu próprio pecado.

Confissão

Que época é essa que invade meu leito?
Que aperta meu peito?
E congela meu ventre?
Que força é essa que me abraça?
Felicidade que maltrata?
Nossa época agora me invade...
Não sei se sinto nosso início ou nosso fim
Mas tenho vontade de chorar...
Teus abraços são ainda tão recentes
E há tanto tempo guardo resquício de teus lábios
Quero expulsar-te de mim
Mas teu fantasma é tão pesado
Me assombra e ri de mim...
Esse cheiro do nosso passado
Me envolve e me maltrata
Me faz reviver a dor como se fosse agora
Meu amor por ti foi proporcional
Ao mal que me fizeste
Vai fazer uma eternidade que me deixaste
Mas a dor ainda é tão imediata
É da mesma forma e intensidade
Quase morro de tanta saudade...
E essa época voltou para mostrar
Que ainda te amo
Apesar da tua maldade
E desejo ver-te arrependido
E ouvir que sem mim ficaste perdido
E que sou protagonista da tua paixão
Que nada foi em vão
É o que de fato sinto
E por mais que disfarce minha saudade
Para mim não minto
Ainda morro de vontade...
Nunca mais senti felicidade...
Nunca te esqueci de verdade.

Doente

Estou doente
Não sei se de amor
Ou de vida
Não sei o que senti primeiro
A dor do amor
Ou da despedida
Sofro o tempo inteiro
Isso não é passageiro
É de janeiro a janeiro
Choro por motivos mil
Desde abril
Que nem sei se existem
Ou se foram inventados
Doeria tanto
Se não houvesse razão?
Posso eu sofrer em vão?
Ou é ausência de motivação?
Não sei que mal
Acomete meu coração...
Não sei se por viver, amei
Ou se por amar, vivi
Não sei se foi a vida
Que me tirou o amor
Ou se por amor
Estou de partida.

Tempo

Faz muito tempo
Desde que fiz meu último quadro
Usei cores à vontade
E te fiz ao meu lado
Faz tempo que não toco meu instrumento
Que não dedilho meu violão
E canto o lamento...
Faz um bom tempo
Que não falo mais de mim
E escrevo para ti
Um poema com fim
Faz tempo que não me abandono
E sinto falta de ti
Há dias o céu está grisalho
Parece que vai chover para sempre
Sinto tua falta há séculos
E te conheço desde ontem
Que eu volte a ser a primeira
Que minha mente acolherá
Que eu possa lembrar
De mim um pouco mais
E tu, serás
Por um bom tempo
Nada mais que um porém,
um resquício de quem
nunca me fez bem

Sentimentos mal resolvidos

Teus sentimentos são ondas
Que deixam nosso amor a fio!
É frágil como uma emenda dura e fina
E pode estourar quando a onda passar
Deixas-me ora triste, ora eufórica
Mas meu coração bate sem parar
E sem parar sinto tua falta
E sem parar sinto tua presença
Teus sentimentos vão e vêm
E me deixam sem saber
É amor ou não?
É para toda a vida ou em vão?
Teus sentimentos são como tu
És intenso ou te acomodas
Apaixona-te ou esfrias
Teus sentimentos me incomodam
Impedem-me de definir meu destino
Pois quando penso que me esqueceste
Pedes colo e chora a minha ausência
E quando penso que sou presente
Dói teu descaso em minha alma
Somos o que, então?
O que somos se teus sentimentos são como água?
Fluido que bate e fere
Amor mal amado
E adeus mal dado.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O poder de "Mil Perdões"

Não sei o que essa música tem... o que nela vicia mais: a melodia delicada, gostosa de cantarolar, a letra interessante e surpreendente... e que se encaixa tão perfeitamente na melodia. Mas toda vez - TODA - que escuto um trechinho dela, já era minha semana! Fica no "repeat" no carro, na sala, no computador, na cabeça, na cozinha, no chuveiro... Escuto mais nada e não enjôo! Até tento pular para outra faixa, mas me dá saudade da bendita música... corro pra ela novamente, mais umas 347 vezes. E a melhor versão dela é a das "Mulheres de Hollanda". Que vozinha que a cantora tem... que vontade de ser ela! Como seria feliz se fosse parte de um grupo de 4 mulheres que cantam Chico pra sobreviver... que inveja dessa vida cujo principal trabalho é ouvir 500 mil músicas do melhor compositor de todos os tempos para fazer uma seleção e uma nova versão para o cd e pro show - que por sinal é lindo de morrer! Ai, ai...

Delícia de música!


MIL PERDÕES

Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz
Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais

Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim
Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim

Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)

Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair

Adoro essa música!! Chico, claro...

Tamandaré

Zé qualquer tava sem samba, sem dinheiro
Sem Maria sequer
Sem qualquer paradeiro
Quando encontrou um samba
Inútil e derradeiro
Numa inútil e derradeira
Velha nota de um cruzeiro

"Seu Marquês", "Seu" Almirante
Do semblante meio contrariado
Que fazes parado
No meio dessa nota de um cruzeiro rasgado
"Seu Marquês", "Seu" Almirante
Sei que antigamente era bem diferente
Desculpe a liberdade
E o samba sem maldade
Deste Zé qualquer
Perdão Marquês de Tamandaré
Perdão Marquês de Tamandaré

Pois é, Tamandaré
A maré não tá boa
Vai virar a canoa
E este mar não dá pé, Tamandaré
Cadê as batalhas
Cadê as medalhas
Cadê a nobreza
Cadê a marquesa, cadê
Não diga que o vento levou
Teu amor até

Pois é, Tamandaré
A maré não tá boa
Vai virar a canoa
E este mar não dá pé, Tamandaré
Meu marquês de papel
Cadê teu troféu
Cadê teu valor
Meu caro almirante
O tempo inconstante roubou

Zé qualquer tornou-se amigo do marquês
Solidário na dor
Que eu contei a vocês
Menos que queira ou mais que faça
É o fim do samba, é o fim da raça
Zé qualquer tá caducando
Desvalorizando
Como o tempo passa, passando
Virando fumaça, virando
Caindo em desgraça, caindo
Sumindo, saindo da praça
Passando, sumindo
Saindo da praça
Passando, sumindo

Sem falta!

Hoje eu começo a tomar fluoxetina! Estou angustiada, triste e obesa. Tudo isso tem cura com um comprimidinho dos deuses. Amei engravidar, parir e ter minha filhota, mas me explica, por favor, o que é o corpo da gente pós parto? Tudo bem, as roupas de antes da prenhez até cabem e a gente fica sem saber onde estão, exatamente, os 4 quilos a mais. Desconfio que estejam nos meus braços, no carão e na pelanca que sobra da barriga. Aí revejo fotos antigas... saudade do meu cabelo que não caía tanto, da barriga que não pulava sobre a calça, do rosto fino, da falta de bunda e de varizes, da pele jovem, dos bracinhos... ah, os bracinhos! E eu me achava gorda. Gorda é a mãe - que me tornei! Tá, tá... eu sei. Emagrecer os malditos 4 quilos não vão resolver todos os meus problemas. Ainda tenho que marcar dermatologista, fazer peeling, botox, preenchimento, tratamento para alopécia, marcar angiologista para me livrar dos quebra-molas que se formaram nas minhas pernas e a mais terrível atividade de todas: a física! Consegui fugir da acadamia brilhantemente até hoje, mas agora não tá dando mais para ignorar a necessidade. Saco. Tenho que comprar roupas de ginástica, escolher uma academia não muito cheia para não passar muita vergonha, tomar coragem todos os dias para sair de casa com essa finalidade, ficar horas naqueles aparelhos chaaaaaaatos e ainda persistir por vários meses até ver resultado. Odeio academia, musculação, pessoas saradas, dispostas, meu corpo murcho. Odeio. Se eu pudesse escolher, trocaria toda a maromba por yoga, aula de dança, bateria, culinária, pintura, corte e costura e choppinho diário no final do dia. Muito melhor.

Mas hoje eu começo a tomar fluoxetina... ah, começo sim! Sem falta! Segunda marco dermato e depois eu penso na academia...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Crise

Tudo tão embolado, bagunçado, de trás pra frente, no tempo errado...
Uma angústia, uma aflição, não tem pra onde correr, não tem uma boa opção.
Tempo feio, tempo triste, abafado e nublado
Um desespero, uma labirintite, uma angina, uma revolta...
Vontade de dar meia volta, refazer minha vida inteira
Necessidade e medo de correr contra o tempo,
Covardia desesperadora de viver à minha maneira
Que merda, que merda, que merda, que merda!
Tudo embolado, bagunçado, de trás pra frente, no tempo errado!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

"Hoje eu não mais vivo, duro"

29 anos. Meu último ano antes dos trinta. Preciso - e quero muito - mudar minha vida, mas tô com uma preguiiiiiiiiiiiiça... preguiça até de escrever tudo que estou sentindo agora. Tô velha demais pra isso. Ai... tchau!

sábado, 26 de junho de 2010

Asas


Como um pássaro eu canto
Canto o choro da solidão
Que como um pássaro
Vôo só, no meio da multidão.
Canto a dor de uma breve vida,
De tua partida,
De minha ferida.
Faço o sofrer bem afinado
E minha tristeza enriquece a melodia
Choro profundo e cansado
Restinho de minha alegria
Como um pássaro velho, perco o norte
Vôo longe e para longe da sorte
Vou atrás do ocaso e da morte
Que como um velho pássaro errante
Eu cante!
Que eu encante algum amante
Que voe comigo por esse horizonte
Esperança ainda tenho aos montes
Que como um pássaro que perde o bando
Eu continuo procurando
Um novo bando para acompanhar
E como um pássaro, continuo a sonhar
E enquanto tiver asas,
Continuo a voar.

Expressão


Perdi a vontade de rimar
De falar em versos poéticos
Quero apenas escrever
Sem me preocupar com palavras
Fazer soar bonito naturalmente
Sem me esforçar tanto...
Mas não é falta de sentimento
Sinto tanto e o tempo todo
Sofro mais do que sempre o fiz
E me confundo dentro de mim
E não há frase que combine com minhas angústias
Que deixe minhas alegrias mais intensas
Sou prisioneira de mim...
Sinto falta de me preocupar mais com a gramática do que comigo...
Era tão mais fácil quando uma onda vinha de cada vez
Agora, afogo-me num caixote sem começo e sem fim
As palavras não mais fluem...
Fica tudo na minha mente,
Embolado e sem expressão
Nem falar consigo mais
Nem escrever é mais meu dom
Nada sei de como sinto
Aproximo as palavras d´aqui dentro
E ainda lamento
Por sentir tão mais do que registro!

Fuga




Preciso sair!
Preciso me livrar de todos que me cercam
Quero ficar sozinha
E me fazer bem
Deixar os outros de lado
E parar de depender
Daqueles que não se importam em me atingir
Quero fugir para outro mundo
Deitar na cama
E respirar
Livre de todas as intoxicações
Viver em paz, enfim!
E nunca mais amar.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Comer, comer...


Acordei já cheia de fome... meti sucrilhos e leite de soja sabor doce de leite para dentro e, assim que terminei, comecei a fazer uma sopa. Caldinho de feijão com macarrão e bacon. Incrementei com restinho de lingüiça calabresa. Ficou ok. Deu pra comer. Meia hora depois, me bateu uma vontade absurda de comer alguma coisa doce! Uma larica sem explicação! Lembrei da lata de leite condensado que tá fazendo aniversário de um mês na geladeira! Claro que precisava incrementar também, com mucilon de aveia e arroz, só pra ficar um pouquinho mais calórico. Delícia! Fiquei pensando na genialidade de quem inventou o leite condensado. Mas à medida que ia dando as últimas colheradas, a admiração foi se transformando em ódio mortal! Espero que o inventor dessa praga tenha ardido muito, mas muito mesmo no fogo do inferno! Inferno de gula! Inferno de vida! Foi metade da lata. Não foi a metade do dia.
Como uma boa devoradora de doce muito doce, mal acabei de lavar a colher suja de leite condensado e já saí procurando algo salgado para tirar aquele sabor insuportavelmente doce da boca. Podia ter escovado os dentes, mas não... preparei um pão de forma com requeijão. Não sei quem tentei enganar, até parece que um pãozinho sustenta! Só tive o trabalho de tirar o requeijão da geladeira de novo e abrir o pacote de pão de novo para preparar o segundo, acompanhado de açúcar com café (sim, nessa ordem mesmo).
Estou impossível hoje!
E são apenas 17h da tarde! Já ingeri caloria pra semana inteira e o frio está apenas começando. Droga.


Preciso tomar um rivotril antes que minha mão adquira vida própria e ligue para o McDonalds e minha boca peça involuntariamente um Big Tasty.

Aliás, não sei porque ainda não voltei a tomar Fluoxetina 20mg de 8/8h.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Id, ego e super-ego


São pouquíssimas coisas que sei com certeza sobre mim.
Sei que sou pequena, branca-amarelada, e de cabelos indecisos.
Meus olhos, castanhos e assimétricos e sorriso encabulado, porque não me orgulho dele.
Não sei para que time torço, senão pelo da minha pátria,
nem me considero politicamente preparada para votar, mas voto mesmo assim...
Não sei de onde surgiu a vontade de ser médica, nem sei se sirvo para tal missão, mas me formei mesmo assim...
Sei apenas que gosto de comida – de gororoba de boteco à comida japonesa – e de me perfumar como se meu cheiro fosse o melhor do mundo!
Não gosto de filmes intensos demais. Cinema, para mim, deve ser leve e positivo, nada de lágrimas! Já abuso demais delas com meus próprios dramas!
Já morei em outro país e a única coisa que aprendi foi a amar mais o meu. Mais nada!
Adoro acampar, mas quase nunca tenho companhia disposta a passar esse tipo de perrengue comigo. Acho que os instintos primitivos ficaram bem preservados em mim.
Gosto de sair com pessoas com quem me sinto segura, mas nada como deitar no “meinho”, entre os meus pais...
Nasci boêmia. Então a única coisa que me cabe bem é a tristeza, mesmo quando estou em paz. É uma paz que dói com serenidade... é gostoso sentir essa dorzinha, é a minha base.
Gosto de música com poesia, por isso gosto de Cartola, Chico, Vinícius, Tom, Guilherme, Nelson, Noel...
Não gosto muito do novo, nada novo me atrai, bom mesmo foi o que já vivi ou o que nem vivi... é aquela sensação de me sentir errada em qualquer lugar, menos naquela roda de samba e bossa na qual me acabo de tanto cantar e sentir e sofrer...
Gosto de bicho. Já criei cachorro, gato, peixes, galinha, pintinhos... tentei salvar formigas, passarinhos, morcego, papa-fumos, borboletas, besouros e até marimbondos. Choro vendo especiais sobre vida selvagem e filmes com animais – mesmo desenho animado e ficção - por isso os evito. Mas como carne mesmo assim... vai entender!
Acho que sou espírita. Mas o que euzinha sei sobre Deus, vida, morte e pós-morte? Acredito em reencarnação porque quero voltar sempre e sempre! Acho até que é o meu subconsciente que não me deixa evoluir como pessoa! Vai que eu não volto mais? Viver naquela paz e felicidade eterna?! Deus me livre!
Sei que tenho muitas dúvidas ainda e acho que sabia mais quando era mais nova do que sei agora (deve ser meu subconsciente maldito de novo!). Tenho errado muito mais e sido muito mais enganada agora. Mas está tudo bem. Não acho ruim, não. Até porque ainda tenho pra onde correr e com quem contar. Meus amigos são mais do que merecia ter. Ouvi dizer uma vez que “alma gêmea” não é necessariamente o companheiro sexual com quem vamos casar, ter filhos e viver feliz para sempre, mas também os nossos amigos. Sendo assim, sou privilegiada.
Quanto ao resto, como diz o Vinícius, na vida você escolhe se quer ser feliz ou viver. E eu, como o "poetinha", sempre vou escolher viver.

Valsinha (Vinícius e Chico)


De Vinicius de Moraes para Chico Buarque:

Mar del Plata, 24 de janeiro de 1971

Chiquérrimo,
Dei uma apertada linda na sua letra, depois que você partiu, porque achei que valia a pena trabalhar mais um pouquinho sobre ela, sobre aqueles hiatos que havia, adicionando duas ou três idéias que tive. Mandei-a em carta a você, mas Toquinho, com a cara mais séria do mundo, me disse que Sérgio [Buarque de Hollanda] morava em Buri, 11, e lá se foi a carta para Buri, 11.

Mas, como você me disse no telefone que não tinha recebido, estou mandando outra para ver se você concorda com as modificações feitas. Claro que a letra é sua, e eu nada mais fiz que dar uma aparafusada geral. Às vezes o cara de fora vê melhor essas coisas. Enfim, porra, aí vai ela. Dei-lhe o nome de "Valsa hippie", porque parece-me que tua letra tem esse elemento hippie que dá um encanto todo moderno à valsa, brasileira e antigona. Que é que você acha? O pessoal aqui, no princípio, estranhou um pouco, mas depois se amarrou na idéia. Escreva logo, dizendo o que você achou.

"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito mais quente do que comumente costumava olhar
E não falou mal da poesia como mania sua de falar
E nem deixou-a só num canto; pra seu grande espanto disse: vamos nos amar...

Aí ela se recordou do tempo em que saíam para namorar
E pôs seu vestido dourado cheirando a guardado de tanto esperar

Depois os dois deram-se os braços como a gente antiga costumava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a bailar...
E logo toda a vizinhança ao som daquela dança foi e despertou
E veio para a praça escura, e muita gente jura que se iluminou

E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz".






DE CHICO BUARQUE PARA VINÍCIUS DE MORAES

Caro poeta,
Recebi as duas cartas e fiquei meio embananado. É que eu já estava cantando aquela letra, com hiato e tudo, gostando e me acostumando a ela. Também porque, como você já sabe, o público tem recebido a valsinha com o maior entusiasmo, pedindo bis e tudo. Sem exagero, ela é o ponto alto do show, junto com o "Apesar de você". Então dá um certo medo de mudar demais. Enfim, a música é sua e a discussão continua aberta. Vou tentar defender, por pontos, a minha opinião. Estude o meu caso, exponha o a Toquinho e Gesse, e se não gostar foda-se, ou fodo-me eu. "Valsa hippie" é um título forte. É bonito, mas pode parecer forçação de barra, com tudo que há de hippie por aí. "Valsa hippie" ligado à filosofia hippie como você a ligou, é um título perfeito. Mas hippie, para o grande público, já deixou de ser filosofia para ser a moda pra frente de se usar roupa e cabelo. Aí já não tem nada a ver. Pela mesma razão eu prefiro que o nosso personagem xingue ou, mais delicado, maldiga a vida, em vez de falar mal da poesia. A sua solução é mais bonita e completa, mas eu acho que ela diminui o efeito do que se segue. Esse homem da primeira estrofe é o anti-hippy. Acho mesmo que ele nunca soube o que é poesia. É bancário e está com o saco cheio e está sempre mandando sua mulher à merda. Quer dizer, neste dia ele chegou diferente, não maldisse (ou "xingou" mesmo) a vida tanto e convidou-a pra rodar.
"Convidou-a pra rodar" eu gosto muito, poeta, deixa ficar. Rodar que é dar um passeio e é dançar. Depois eu acho que, se ele já for convidando a coitada para amar, perde-se o suspense do vestido no armário e a tesão da trepada final. "Pra seu grande espanto", você tem razão, é melhor que "para seu espanto". Só que eu esqueci que ia por itens.
Vamos lá:
* Apesar do Orestes (vestido de dourado é lindo), eu gosto muito do som do vestido decotado. É gostoso de cantar vestidodecotado. E para ficar dourado, o vestido fica com o acento tendendo para a primeira sílaba. Não chega a ser um acento, mas é quase. Esse verso é, aliás, o que mais agrada, em geral. E eu também gosto do decotado ligado ao "ousar" que ela não queria por causa do marido chato e quadrado. Escuta, ô poeta, não leva a mal a minha impertinência, mas você precisava estar aqui para ver como a turma gosta, e o jeito dela gostar dessa valsa, assim à primeira vista. É por isso que estou puxando a sardinha mais para o lado da minha letra, que é mais simplória, do que pelas suas modificações que, enriquecendo os versos, talvez dificultem um pouco a compreensão imediata. E essa valsinha tem um apelo popular que nós não suspeitávamos.
* Ainda baseado no argumento acima, prefiro o "abraçar" ao "bailar". Em suma, eu não mexeria na segunda estrofe.
* A terceira é a que mais me preocupa. Você está certo quanto ao "o mundo" em vez de "a gente". Ah, voltando à estrofe anterior, gostei do último versos onde você diz "e cheios de ternura e graça" em vez de "e foram-se cheios de graça". Agora, estou pensando em retomar uma idéia anterior, quando eu pensava em colocá-los em estado de graça. Aproveitando a sua ternura, poderíamos fazer "Em estado de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar". Só tem o probleminha da junção "em-estado", o "em-e" numa sílaba só. Que é o mesmo problema do "começaram-a". Mas você mesmo disse que o probleminha desaparece dependendo da maneira de se cantar.E eu tenho cantado "começaram a se abraçar" sem maiores danos. Enfim, veja aí o que você acha de tudo isso, desculpe a encheção de saco e responda urgente.
* Há um outro problema: o pessoal do MPB-4 está querendo gravar essa valsa na marra. Eu disse que depende de sua autorização e eles estão aqui esperando. Eu também gostaria de gravar, se o senhor me permitisse, por que deu bolo com o "Apesar de você", tenho sido perturbado e o disco deixou de ser prensado. Mas deu para tirar um sarro. É claro que não vendeu tanto quanto a "Tonga", mas a "Banda" vendeu mais que o disco do Toquinho solando "Primavera". Dê um abraço na Gesse, um beijo no Toquinho e peça à Silvana para mandar notícias sobre shows etc. Vou escrever a letra como me parece melhor. Veja aí e, se for o caso, enfie-a no ralo da banheira ou noutro buraco que você tiver à mão.

"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz."

Um pouco do nada


Não mais me inspiro
Escrevo palavras solteiras que não combinam
Também...nem a tristeza faz parte de mim.
Sou coração congelado que não derrete e permanece
Os anos me abatem com força,
Os suspiros dos quinze sumiram
E o sofrer e o querer cessaram.
Que estranho morar fora de mim,
Sentir-me apenas no corpo.
A alma? Que alma? Morri e nem percebi!
Ando, falo e durmo
Parei de sentir o tempo
E aguardo uma mudança
Como se ainda existisse esperança.
Mas, espere! Estou nos meus anos vinte!
Não era para ser melhor?
O que me congela não é o frio,
E sim a falta de calor.
Minha cabeça dói... já nem me importo mais,
Parece que me despercebo.
Desperdiço todo meu tempo escrevendo sobre o nada.
Pior é aquele que lê sobre o nada
Esperando que daqui se exprima algo otimista
Ou até profundamente deprimente.
Não, amigo, hoje não sinto
Sou como o Pessoa, duro... não mais vivo.
Teu desejo é o meu também
Que ainda veja emoção no papel,
Mas o tédio em mim é tão imenso
Preenche-me todo o pensamento.
Beijo, e nem me lembro.
Quem é este que me acompanha?
Já nem o reconheço...
Não me reconheço nesse lar...
sei lá...
Que nada entediante tenho aos meus olhos!
Và! Viva tua vida, caro colega.
Não deixes o que vivo te afetar
Apressa-te! Que nada aqui inspira esperança
E em vão te sujeitarás à tardança.

Erro Médico


Vilão ou vítima: de quem é a culpa?

Todos os dias, médicos são criticados impiedosamente, como se tivessem passado por toda a faculdade fazendo planos mirabolantes para prejudicar o paciente. Claro que negligência existe, e acho que todos que se enquadram nessa categoria não deveriam ter optado por uma profissão cujo objeto de trabalho é a vida das pessoas. Mas, vamos com calma! Será mesmo que a grande maioria dos pecadores erra conscientemente, pelo puro prazer de errar?
Penso que os médicos já se acostumaram a viver na defensiva no exercício da sua profissão e até nossas aulas são incrementadas com dicas dos doutores/professores sobre “como não ser vítima de advogados mal intencionados”. Devemos mesmo nos conformar em morar nessa selva, onde cada um protege o que é seu e se “der mole” alguém “come sua cabeça”?
Sim, doutores, nos tornamos vítimas de algo muito grande, tão grande que se a nossa vocação não for bem definida e resolvida dentro de nós, será mastigada e engolida. Hoje, o médico sofre de “mania de perseguição”, somos vítimas do sistema, da política, dos convênios (ruim com eles, pior sem eles...), dos advogados sem ética, dos próprios colegas de profissão, dos pacientes sem educação, dos funcionários da área, da indústria farmacêutica... estamos cercados! Mãos que antes examinavam, confortavam, estão atadas! Dificilmente trabalhamos nas condições ideais e o prazer em exercer uma função tão nobre, antes tão gratificante, está se extinguindo.
Temos que nos preocupar mais em escrever tudo no prontuário do que em olhar para o paciente e examiná-lo (lembra? Lá da Semiologia?). Mas, se não registramos tudo, somos processados! Se não damos atestado médico, o paciente nos difama para toda a comunidade, mas se damos, as empresas, patrões, advogados, etc. caem em cima! Se ficamos mais de dez minutos atendendo um paciente, os outros da fila reclamam, mas se atendemos rápido demais, o paciente diz que o doutor é ruim! E por aí vai...
Sim, doutores, roemos os ossos e nem sempre comemos a carne, mas ainda somos médicos. Enquanto a Política de Saúde do Brasil, bem como a de Educação, não tomam um rumo sério, a única solução é a mais básica de todas: olhar para trás, fazer uma forcinha e lembrar o porquê de termos escolhido Medicina. E como médicos, o amor ao próximo não se trata mais de religião e sim de vocação. Por mais injusto que tudo isso seja, ainda somos nós a única esperança de muitos. Não dancemos conforme a música, sejamos justos e tratemos nossos pacientes com carinho. Sejamos honestos, porque um erro não justifica o outro e, no final das contas, quem mais sofre com nossos erros não é o paciente, somos nós mesmos!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Minha cruz


Mesmo doendo
Meus pés se arrastam
Todo recente vira passado
Até as mágoas
Até os sorrisos
Para que culpar o destino
Se o meu caminho eu mesma percorro?
Da minha cruz não corro
O fardo é minha mais íntima verdade
Minha própria criação
Assumo meus pesares
E com paciência aguardo
O resultado da minha fé
Acredito que sou responsável por meu destino
E que nem sempre a cruz é pesada
Desde que a encontre,
A leve com jeito
E a faça leve em meu peito.

Morte


Vejo a morte
Como a menina que nos tira o doce
Que por anos saboreamos
Sem saber o sabor
É desperdício da vida
Que nos diz que perdemos tempo
Que amamos e sofremos em vão
Que pecar não se conjuga
E nem existe perdão
Quanto mais vivo
Mais temo a morte
Pois nunca se está pronto para morrer
...tem sempre tanto para ver!
O que me conforta
É o chão no qual me sento agora
E as pessoas que já abracei
Pois o depois não sei se vem
E ainda tenho tanto para decidir!
Entendo, agora,
Que a punição não é o inferno
Que o castigo é morrer
É quando Deus nos priva de ser,
Nos interrompe sem pedir licença
E não nos diz se acabou
Ou se ainda não começou...
Vejo a morte como a tia mais chata
Que chega sempre na hora errada
E nunca percebe que não é bem-vinda.

Caos


Penso em mim e nesse tormento...
Não me entendo, nunca me entendi...
Nem sei me julgar,
Muito menos saber se sou do bem ou do mal
Odeio-me ao extremo
Por todos os espinhos que fazem parte do meu corpo
Queria poder parar de funcionar,
De ir para uma dimensão diferente
Onde não machuque ninguém.
Não quero ser amada
Não quero ser culpada
Eu quero acordar mudada
Quero controlar meus sentimentos
E não por eles ser controlada.
Penso no rastro que deixei
Nas pessoas que marquei
Nos amores que atropelei
Nos caminhos que escolhi
Nos mais difíceis eu tropecei
Sempre caí... mal levantei
Sou odienta, sou odiosa
Tenho aversão ao que diz respeito a mim
Pois sou repugnante, sou maldosa
Mas falta-me ser maliciosa.
Sou escrava da estupidez
Quero começar tudo outra vez
Quero parar de produzir insensatez
Sumir, talvez...
Quero ser desprezada
Quero ser socorrida
Quero ser injuriada
Quero ser acolhida
Quero escolher meus sentimentos
E não por eles ser movida.

Calejada


Com o tempo
Os defeitos vão tendo graça
A complacência aumenta
E a luta requer tanta energia que nem vale mais a pena...
Na verdade, a maturidade vem me deixando
Cada vez mais apática
Deve ser a lei natural da vida...
No mais tardar, desistência
No fim, anseio por morte.
Com o tempo
Os sentidos vão se invertendo
E que era ruim fica bom
E o bom torna-se desgastante
Nenhum segundo além
Torna-me mais sábia que cansada
E as horas
Matam-me de medo aos poucos
O tempo devia correr invertido...
E a imobilizante âncora da responsabilidade
Tornaria-se uma garantia de segurança
As pessoas se odiariam primeiro
Para depois, se enxergarem virgemente...
Com o tempo
A gente vai comendo de tudo,
Como se o sabor não mais importasse
Qualquer sentimento tende à neutralização
Tudo amornece
E a pele murcha...

Cansada


Atravesso calmamente as ruas apressadas
Eu não me apresso mais
A vida que venha atrás de mim
Eu não corro mais atrás dela
Abandonei a auto piedade mesquinha
Cansei de tanta coisa...
Até de sonhar
Poupo-me de frustrações
Não aprecio perguntas sem respostas
Se for pra perder tempo
Melhor perder cantando
Se Deus existe,
Se há vida após a morte
Anjos, gnomos, demônios
Só saberei quando morrer
Então sigo mesmo é vivendo
Que a vida, sim, existe
Vou amando enquanto posso
Até a hora que cansar
Disseram que do amor a gente não cansa...
Cansa sim... tudo cansa
Mas a gente continua amando
Como contunua respirando
Atravesso preguiçosamente as ruas inquietas
Até que um apressado me tire o fardo de amar
Ou me tire logo todo o ar.

Idosa


Estou cheia d´uma falta de mim mesma
Em meus sentimentos
A saudosa solidão
Atordoa agora meu juízo
E me traz uma desesperança imediata
Não, não vai mais melhorar
Quando se perde a inocência
O cinismo não mais se reverte
Tornei-me séria demais para a vida
E a vida séria demais para mim
A graça que vejo – e ninguém mais vê –
Não me faz rir...
Basto um sorriso dentro de mim
Não quero conhecer mais ninguém
E alguém bem que podia sumir
Acho que envelheci rápido demais
Pois nada mais sobrou pra eu sentir.

FINAL


Jogadas ensaiadas
Metas desviadas
Fui driblada
Massacrada
Cadê a falta?
Expulsaram-me de mim
Perdi e não sei perder
É difícil não xingar
E esquecer os lances errados
Faria tudo para voltar
E chutar certo
Mas não sei jogar...
Devia treinar
Saí ofegante
Sem ar
Perdida e humilhada
Fui até vaiada
Não entrei para jogar
Mas joguei tudo fora...

domingo, 17 de janeiro de 2010

Meus Pais


Meus pais são geniais! Pode soar totalmente clichê, mas Deus me deu os melhores pais do mundo e, no meu caso, é verdade mesmo! De todos os casais que já vi e ouvi falar, os dois formaram o mais perfeito.
Os dois vieram de famílias simples, até aí nada de extraordinário, mas papai conseguiu ser o único a se sobressair devido à visão e atitude. Único médico dentre os irmãos, aliás, único com terceiro grau, numa época em que contava-se em uma mão o número de Faculdades de Medicina no estado. Não virou só um médico famoso pela competência e perfil humano na cidade, como um músico extremamente talentoso e, claro, auto-didata: violão, cavaquinho e acordeon.
Tomou à frente do carnaval são joanense com um bloco que atraía milhares de pessoas de toda região e ainda teve tempo e disposição para ser um pai amigo, presente e maravilhoso.
Fora a sede inigualável de viver: viagens que eu talvez leve a vida inteira planejando e nunca realize, ele fazia acontecer: acampamentos, desbravamento de regiões de pesca do país, fim de semana no sul, verões no nordeste... tudo é fácil para ele e com ele.
Dinheiro nunca foi problema, mas também nunca mimou suas filhas. É o "faz-tudo" da casa: eletricista, arquiteto, bombeiro hidráulico, pedreiro, mecânico, etc.
Homem que era pra ser bronco, "da roça", não teve um filho homem... e nunca demonstrou para as três filhas que ligava pra isso, pelo contrário! Ainda tem a maior paciência e boa vontade para passar o dia todo em shopping centers com a mulher e a penca de meninas vaidosas.
Nunca nos negou nada... nunca reclamou da vida, de falta de tempo, de dinheiro, de cansaço... e é super carinhoso e sensível. Não economiza palavras de amor e incentivo e gestos de carinho.
Não consigo pensar em uma qualidade que falte nele... qualidade ele tem de sobra! Já seria quase perfeito se fosse somente um terço do que é. E para completar, o danado ainda foi certeiro na escolha da mulher!
Mamãe é incrível também! Veio de família simples, mas que prezava muito a educação. Eis que mamãe tornou-se uma ilha de talento, cultura, inteligência e criatividade.
Bonita de chamar atenção na rua até hoje, sempre foi uma morena cobiçada pelos marmanjos da sua época. Professora, não por falta de opção, mas por ter o dom admirável de ensinar, sem nunca ter precisado ser megera com os alunos.
Dentro de casa, uma enérgica líder que consegue se multiplicar em mil e dar conta de todas as funções da família. Coordena a casa com excelência e ainda é uma mãe daquelas responsáveis pelo cumprimento de praticamente todas as nossas obrigações.
É a que faz a vida da gente funcionar, chega junto como esposa, mãe, avó, filha, sobrinha, professora, amiga, patroa... É tudo isso sem nunca perder a elegância.
O dom da música também é admirável! É uma artista com clara noção sobre apresentação, qualidade e performance e canta de forma suave e afinada como ninguém! Se doa demais e resolve os problemas de todo mundo à sua volta. Nunca deixa nada pra depois.
É tão forte que parece um muro de concreto... sua sensibilidade nos surpreende... chora baixinho quando se emociona, sem drama. Acha que não é reconhecida e ainda assim continua fazendo tudo por todos incondicionamente.
Meus pais são uma união perfeita que faz com que a gente acredite mesmo em destino, porque não pode ter sido o acaso que os uniu! Não teria Deus se os dois não tivessem se encontrado, porque um é do outro e não seriam de mais ninguém.
Hoje, talvez, não percebam o milagre e a beleza dessa união... não percebem que iguais ou melhor que eles nunca existiu e nem nunca vai existir.
E eu sou uma das grandes privilegiadas, fruto dessa união e testemunha dessa perfeita combinação de inspiração divina.